1511
Nascimento de João Rodrigues, em Castelo Branco.
1525
Data provável da partida de Amato para Salamanca, onde frequenta os estudos de medicina na Universidade de Salamanca, uma das mais prestigiadas universidades europeias à época.
Ali permanece vários anos, até concluir a sua formação académica: após um bacharelato em Artes, estuda Medicina e Cirurgia.
No Renascimento, Salamanca era um importante centro de conhecimento e de aprendizagem, atraindo estudiosos de diversas origens geográficas e culturais, num ambiente intelectualmente estimulante, que terá proporcionado a Amato conhecimentos não só sobre medicina na perspetiva mais clássica, mas também abordagens inovadoras.
Esta formação e experiência pessoal conduziriam mais tarde à investigação consolidada das centúrias médicas, e também à ao caráter humanista de Amato Lusitano, fruto também do seu contacto com diversas culturas, em diversos países, ao longo da sua vida.
1532
Data provável do regresso de Amato Lusitano a Portugal, após terminar os seus estudos em Salamanca. O regresso pode ter sido influenciado por acontecimentos políticos e sociais ocorridos em Espanha, mas também pela sua própria visão do futuro.
Procurou estabelecer-se como médico junto da sua família, tendo exercido a sua profissão também em cidades como Guarda, Évora, Santarém, Coimbra e Lisboa, entre outras (Dias, 2011).
Em simultâneo, pesquisava sobre plantas e suas propriedades terapêuticas, oriundas de Cabo Verde, Brasil ou Índia.
Todavia, foi em Lisboa que me demorei mais tempo e que me apercebi da imensa gente de vários países que aqui chegava e partia por causa das mercadorias que as nossas naus traziam de longes terras. Como as plantas que vinham da Índia eram para mim uma novidade, aproveitei para as começar a estudar.”
(Maximiano Lemos; A.L., II Centúria, cura 31, citado por Morais, 2011, p.28).
1534
De origem judaica, Amato abandona clandestinamente Portugal em 1534 devido às políticas do rei D. João III contra os cristão-novos.
Ruma a Antuérpia, onde consolida a sua formação como humanista e cria tal prestígio que atrai pacientes de locais longínquos, sendo chamado a prestar serviços médicos em países vizinhos.
Frequentou a Casa de Portugal, estudando plantas trazidas pelos comerciantes portugueses das suas viagens, que lhe explicavam onde e como cresciam essas plantas e qual o seu uso, o que lhe permitiu ampliar os conhecimentos e integrá-las nas suas curas.
1536
Em Antuérpia, desenvolveu os seus conhecimentos médicos, tendo publicado o seu primeiro livro impresso em latim, Index Dioscorides, assinado como Joanne Roderico Castelli Albi, Lusitano autore. Esta obra é um importante contributo para o estudo da botânica e da farmacologia. Nele, Amato descreve as plantas e o seu uso, confrontando as suas observações com as de Dioscórides, reputado médico, farmacologista e botânico grego, autor da obra De Materia MedicaExiste um exemplar na Biblioteca Pública de Évora.
A situação político-religiosa volta a condicionar a vida de Amato Lusitano. A regente dos Países Baixos, Maria da Hungria, irmã do Imperador Carlos V, por instruções deste, procurou espoliar dos seus bens os cristãos-novos ricos, associados no consórcio da pimenta, em especial os banqueiros Mendes/Benveniste, Henrique Pires, Manuel Serrano, Gabriel de Negro e outros. Este facto levou a uma fuga massiva do território, ficando nós, os hebreus portugueses que eles protegiam, em posição muito vulnerável” (Morais, 2011, p. 34).
A convite do Duque de Ferrara, e beneficiando de uma rede secreta de apoio à emigração dos judeus portugueses, Amato ruma a Ferrara.
1540
Fixa-se em Ferrara, Itália, onde permanece vários anos.
A cidade possuía uma universidade muito prestigiada e uma das cortes mais ilustres de toda a Europa, sendo governada por Ercole II d’Este, duque de Ferrara, duque de Módena e Reggio e Senhor de Rovigo, filho de Lucrécia Bórgia.
Convive com a nobreza, visitando os seus jardins, e com prestigiados farmacêuticos procurando adquirir novos conhecimentos sobre plantas e os seus usos terapêuticos.
Tem como pacientes figuras notáveis da sociedade, tais como papas, cardeais, príncipes, embaixadores, generais, aos quais dedica a mesma atenção e cuidado aos seus outros pacientes: soldados, mercadores, marinheiros (…). É essa dimensão humanista que imprime particular fascínio a todos quanto estudam a sua vida e obra.
Amato orgulha-se de exercer a sua profissão conjuntamente com o cirurgião e amigo, João Baptista Canano com quem partilhou a cátedra de Anatomia da prestigiada Universidade de Ferrara. Consagrou-se à explicação dos textos de Galeno e Hipócrates, escreve os Comentários à obra De Materia Medica de Dioscórides, intitulada Indioscoridis Anazarbei de Medica Materia Libros Quinque Enarrationes, e redige as Centúrias Médicas, o seu grande tratado de clínica.
1547
Partida de Amato para Ancona, onde viviam milhares de cristãos-novos portugueses, expulsos de Portugal. Aí reencontrou o seu irmão José Amato, e o seu sobrinho Brandão.
Nesta cidade italiana, tratou figuras ilustres como Dona Jacoba dei Monte, irmã do Papa Júlio III. Deslocava-se a diversas cidades italianas, sempre que solicitados os seus préstimos, tal como aconteceu quando foi a Veneza, para tratar D. Diogo Hurtado de Mendoza, embaixador do Imperador Carlos V.
1549
A 1 de dezembro de 1549, em Ancona, termina a Primeira Centúria, impressa em Florença em 1551 (Morais, 2011).
Devido à perseguição dos judeus pelo Papa Paulo IV, Amato Lusitano vê-se novamente obrigado a fugir, desta vez, para Roma.
1550
Em Roma foi médico do Papa Júlio III e de alguns dos seus familiares. Também em Roma, dá-se o reencontro com duas pessoas muito importantes na vida de Amato Lusitano: o seu discípulo André Laguna, passados 20 anos de se terem conhecido em Salamanca, e o seu irmão José Amato.
Termina a redação da Segunda Centúria, datada de 1 de abril de 1551 (publicada em 1553).
1551
Dirige-se a Florença, onde permanece pouco tempo.
Este período é marcado pela impressão da Primeira Centúria, dedicada a Cosme de Medicis.
1 de abril de 1551, em Roma, termina a Segunda Centúria (publicada em 1553) que dedica a D. Hipólito d’Este, Cardeal de Ferrara, em reconhecimento pela proteção que o duque e seus familiares sempre dispensaram aos judeus acolhidos em Ferrara.
1552
Regressa à cidade italiana de Ancona, onde priva com poetas e médicos, referindo-se a eles em diversas obras suas. Relembra também a vasta experiência clínica que possuía, acolhendo pacientes dessa cidade com situações clínicas graves, que recorriam aos seus préstimos como reputado clínico.
A 2 de Julho de 1552 termina a Terceira Centúria. e, cerca de um ano depois, a 17 de setembro de 1553, a Quarta Centúria.
1553
A 17 de setembro de 1553, termina a Quarta Centúria (David de Morais, 2011).
Estando a ser perseguido pelos agentes de Paulo IV, foge para Pesaro.
Deixa para trás todos os seus bens, incluindo as obras da sua biblioteca, em particular dois dos seus manuscritos: a Quinta Centúria, quase concluída, e os Comentários sobre a Quarta Fen do livro primeiro de Avicena.
1555
Refugia-se em Pesaro. Procurou recuperar as suas obras e seguindo a indicação do seu amigo Abrahão Catalão, escreveu aos comissários de Paulo IV pedindo-lhes a devolução das obras apreendidas. Conseguiu recuperar a Quinta Centúria(Morais, 2011, p.54). Ante a ameaça do exílio, resolve partir para Ragusa, atual Dubrovnik, Croácia.
1556
Já em Ragusa, junto ao mar Adriático, exerce a sua prática clínica com grande reconhecimento.
Devido ao seu prestígio, chegavam pessoas atraídas pelo seu conhecimento científico.
Era uma autoridade médica do seu tempo, deixando uma marca indelével na vida quotidiana desta cidade, onde exerce como clínico durante cerca de três anos.
Por esta altura, na redação dos Comentários sobre Dioscórides, intitulado Indioscoridis Anazarbei de Medica Materia Libros Quinque Enarrationes , Amato não se coibiu de apontar a inexactidão, no que ao uso das plantas medicinais. desagradando de um médico e botânico italiano, Pietro Andrea Mattioli, um ilustre comentador da obra de materia medica, da autoria de Dioscórides.
A diferença de opiniões levaria Mattioli a escrever o livro Apologia Adversus Amatum Lusitanum , publicado em 1558 e que gerou controvérsia entre ambos, levando a que Amato Lusitano abandonasse definitivamente terras croatas.
Este episódio da vida de Amato Lusitano mostra “… como o preconceito religioso e racial, de par com a soberba académica, podem distorcer o rigor e isenção nas ciências mais aparentemente isentas de motivações ideológicas ou nacionais.” (Pinto, 2013, p.161).
1558
Termina a Sexta Centúria ainda em Ragusa
1559
Instala-se depois em Salónica, cidade Turca que era o porto de abrigo para muitos dos judeus perseguidos pela Inquisição, onde era possível viver em paz, e permitido ler os livros sagrados e praticar livremente a religião. (Morais, 2011, p.61).
Nesta época, o Sultão Soleimão II acolheu no seu vasto império, famílias judaicas vindas de Portugal, Espanha e outros países, vislumbrando as vantagens comerciais e financeiras que a império Otomano poderia obter com a permanência dessas famílias.
1561
Amato redige a Sétima Centúria (última).
1568
A peste instala-se em Salónica, na Grécia, onde Amato viria a falecer.